terça-feira, 26 de novembro de 2013

O som que dissolveu meu encanto

Faltava materialidade naquela noite. Havia partículas brancas nos ares (era névoa?) e fazia um frio desesperador. Mais do que tudo eu necessitava de um toque humano. Insanamente. O que me levou a segurar sua mão em um impulso, para me salvar daquela sensação terrível. Nós apenas estávamos conversando sobre coisas triviais, sentados no meio fio de uma calçada naquela noite estranha. Até que o frio penetrou em minhas entranhas e de repente cometi esse ato impensado. Depois de olhar para seus olhos assustada com o que fiz, retirei a minha mão, mesmo que você, vacilante e com dúvidas, tenha a segurado também. Mesmo que naquele breve toque todo frio tenha se dissipado, eu não podia fazer isso. Sinto muito, não queria transpor a barreira invisível que criamos entre nós. A barreira de duas pessoas que compartilham o segredo de apenas uma delas amar. Sou eu que te amo e tudo que eu faça pode parecer uma agressão. Portanto tive que retirar, mesmo que aquele toque fosse minha salvação. Sentia alguma vergonha, pois sei que no fundo esse ato não foi tão despretensioso assim. Mas continuamos a conversar como se nada tivesse acontecido. Ainda busco entender esse processo de naturalidade entre nós, mesmo que tudo aconteça há um pacto silencioso de não comentar nada. E assim esqueci minha vergonha, mas não esqueci a sensação do toque e pra ser sincera queria que acontecesse tal acidente de novo. Confirmando a estranheza de toda essa situação, de repente você começou a oferecer ramos de folhas a moças bonitas que passavam, o que me fez sentir algo estranho, o velho sentimento de “por que não eu?”. Como se tivesse lido meus pensamentos, você comentou que isso é muito diferente de amor. E o que foi mais inusitado ainda foi você ter dito que estava começando a sentir algo próximo disso (amor?). Soltei um “ahn?” que ecoou na noite. Passava em minha cabeça “será que é por mim? isso não pode estar acontec...”. E de repente você se aproximou e estava do meu lado, me abraçando e dizendo que se falasse a verdade começaria a rir, eu disse que seja lá o que fosse iria rir também. Nada disso fez sentido, mas quando vi, já estava nos seus braços, e tudo ficou mais escuro e nebuloso. Por alguns segundos me perdi nesse abraço que era de uma sensação azul. Não enxergava mais nada mas sabia pelo som de sua respiração que nossas faces estavam se aproximando. Nos beijamos e tudo virou um fluxo, a luz e a escuridão oscilavam, sentia algo tão forte, mas era como se faltasse materialidade, era como se tudo só existisse dentro de mim. Em alguns momentos sentia meu rosto atravessar o seu. Mas compreendi, pois dizem que quando beijamos quem amamos é como se fossemos pra outro universo. Era exatamente essa a sensação. Estranha, irreal e real ao mesmo tempo. O fato é que eu queria aproveitar cada segundo daquilo que parecia que ia desaparecer. Queria que o frio congelasse tudo pra não se dissipar jamais (por que toda felicidade eu já vivo sabendo que irá acabar?). Não via a hora de ouvir o que tinha a dizer sobre aquilo tudo, e ao mesmo tempo sentia que nunca ouviria. Por que? Pelo nosso pacto? Por que foi um deslize? Por que teríamos que esquecer? Aos poucos a sensação maravilhosa dividiu espaço com uma angústia: por que eu nunca saberia o que pensa disso? Mas o momento me enebriou novamente e parei de me importar. Fui mergulhando cada vez mais nesse beijo, nessa sensação, nesse espaço sideral que se abriu no nosso enlace. De repente um telefone tocou. Cambaleei como se tivesse sido atingida em cheio. Estava tonta, não sabia onde fui parar. Até tocar no móvel da sala. Reconheci a materialidade da vida e chorei. 
















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